História da Educação
O RENASCIMENTO
Objetivo:
Esta lição tem como objetivo mostra onde, como e porque o renascimento surgiu. Como ele afetou a maneira de viver da sociedade da época e quais foram seus benefícios para as gerações atuais.
O RENASCIMENTO
MUDANÇAS NA SOCIEDADE
O período da mudança do feudalismo para o capitalismo causou várias modificações também nas artes, no pensamento e no conhecimento científico. Visto que as transformações começadas na Baixa Idade Média estimularam a Revolução Comercial na idade moderna. Essas mudanças eram influenciadas pela expansão comercial, reforma religiosa e ao absolutismo político. Abrangeram os séculos XIV até XVI, chamado assim de renascimento cultural.
Esse movimento de origem burguesa destacava uma cultura laica, ou seja , sem a interferência da igreja. Já que para ela, sentimentos como alegria, prazer, riso eram ligados a coisas inferiores. As tentativas de explorar a ciência era considerado heresia. O renascimento abriu uma porta para o conhecimento e os estudos. Devido a preocupação maior dos renascentistas ser a vida humana, este movimento também foi chamado de Humanismo.
História Geral - O Renascimento
O Renascimento foi uma nova visão de mundo estimulada pela burguesia em ascensão. Suas principais características eram o racionalismo (em oposição à fé), o antropocentrismo (em oposição ao teocentrismo) e o individualismo (em oposição ao coletivismo cristão).
O Humanismo foi um movimento intelectual que pregava a pesquisa, a crítica e a observação, em oposição ao princípio da autoridade.
O Renascimento e o Humanismo nasceram na Itália, em função da riqueza das cidades italianas, da presença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma e da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito para a divulgação de novas idéias.
Principais figuras do Renascimento
I. Itália -- Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Giovanni Boccaccio, Nicolau Maquiavel, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio, Michelangelo Buonarroti.
II. França -- François Rabelais, Michael de Montaigne.
III. Inglaterra -- Thomas Morus, William Shakespeare.
IV. Holanda -- Erasmo de Rotterdam, Jan Van Eyck, Pieter Bruegel, Rembrandt.
V. Alemanha -- Albrecht Dürer, Hans Holbein.
VI. Portugal -- Luís Vaz de Camões.
VII. Espanha -- Miguel de Cervantes.
A pesquisa científica evoluiu muito no período graças, entre outros, a figuras como: Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler, André Vesálio, Miguel de Servet e William Harvey.
FILOSOFIA HUMANISTA - RENASCIMENTO CIENTÍFICO E CULTURAL
Os estudos humanísticos tornavam indispensável à aprendizagem do grego e do latim para uma leitura direta dos textos dos autores da Antiguidade greco-romana, sem a interferência da teologia cristã, dominante durante a Idade Média, Os humanistas procuraram reinterpretar os Evangelhos à luz dos valores da Antiguidade, que exaltavam o homem como ser dotado de liberdade, de vontade e de capacidade individual.
A filosofia humanista deu origem a um homem de mentalidade renovada que tinha como principais virtudes à coragem, a eficiência, a inteligência e o talento para acumular riquezas elementos esses inteira mente de acordo com a ordem econômica introduzida pela burguesia, Esse "novo indivíduo'', liberto das tradições feudais, era capaz de expandir livremente a sua energia criadora e de procurar explicações racionais sobre o universo que o cercava, graças as suas qualidades pessoais e intransferíveis".
0 Humanismo combateu a ordem e a hierarquia do mundo medieval, no qual, o papel do homem era sempre determinado pelo nascimento e pela Igreja. Sua perspectiva antropocêntrica trouxe o interesse pela investigação da natureza e o culto à razão e à beleza característicos da cultura greco-romana, criando ás bases dá Renascimento artístico e científico dos séculos XV e XVI.
Renascimento Cultural
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Durante os séculos XV e XVI intensificou-se, na Europa, a produção artística e científica. Esse período ficou conhecido como Renascimento ou Renascença. As características principais deste período são as seguintes :
- Valorização da cultura greco-romana. Para os artistas da época renascentista, os gregos e romanos possuíam uma visão completa e humana da natureza, ao contrário dos homens medievais;
- As qualidades mais valorizadas no ser humano passaram a ser a inteligência, o conhecimento e o dom artístico;
- As qualidades mais valorizadas no ser humano passaram a ser a inteligência, o conhecimento e o dom artístico;
- Enquanto na Idade Média a vida do homem devia estar centrada em Deus ( teocentrismo ), nos séculos XV e XVI o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo).
- A razão e a natureza passam a ser valorizadas com grande intensidade. O homem renascentista, principalmente os cientistas, passam a utilizar métodos experimentais e de observação da natureza e universo.
- A razão e a natureza passam a ser valorizadas com grande intensidade. O homem renascentista, principalmente os cientistas, passam a utilizar métodos experimentais e de observação da natureza e universo.
Durante os séculos XIV e XV, as cidades italianas como, por exemplo, Gênova, Veneza e Florença, passaram a acumular grandes riquezas provenientes do comércio. Estes ricos comerciantes começaram a investir nas artes, aumentando assim o desenvolvimento artístico e cultural. Por isso, a Itália é conhecida como o berço do Renascentismo. Porém, este movimento cultural não se limitou à Península Itálica. Espalhou-se para outros países europeus como, por exemplo, Inglaterra, Espanha, Portugal, França e Países Baixos.
Principais representantes do Renascimento Italiano e suas principais obras:
- Michelângelo Buonarroti (1475-1564)- destacou-se em arquitetura, pintura e escultura.Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina.
- Rafael Sanzio (1483-1520) - pintou várias madonas (representações da Virgem Maria com o menino Jesus).
- Leonardo da Vinci (1452-1519)- pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico, escritor, etc. Obras principais :Mona Lisa, Última Ceia.
Na área científica podemos mencionar a importância dos estudos de astronomia do polonês Nicolau Copérnico. Este defendeu a revolucionária idéia do heliocentrismo (teoria que defendia que o Sol estava no centro do sistema solar).Copérnico também estudou os movimentos das estrelas.
Nesta mesma área, o italiano Galileu Galilei desenvolveu instrumentos ópticos, além de construir telescópios para aprimorar o estudo celeste. Este cientista também defendeu a idéia de que a Terra girava em torno do Sol. Este motivo fez com que Galilei fosse perseguido, preso e condenado pela Inquisição da Igreja Católica, que considerava esta idéia como sendo uma heresia. Galileu teve que desmentir suas idéias para fugir da fogueira.
HUMANISMO
O humanismo era a valorização de matérias que envolviam a vida humana, como matemática, línguas,história e filosofia laica. Procurava nas pessoas suas belezas, seus aspectos positivos, ou seja aspectos mais ligados ao pensamento burguês do que ao da igreja.
O humanismo , ou seja , o homem sendo o centro das atenções, do universo, daí o termo Antropocentrismo.
Contexto Histórico
As conquistas marítimas e o contato mercantil com a Ásia ampliaram o comércio e a diversificação dos produtos de consumo na Europa a partir do século XV. Com o aumento do comércio, principalmente com o Oriente, muitos comerciantes europeus fizeram riquezas e acumularam fortunas. Com isso, eles dispunham de condições financeiras para investir na produção artística de escultores, pintores, músicos, arquitetos, escritores, etc.
Os governantes europeus e o clero passaram a dar proteção e ajuda financeira aos artistas e intelectuais da época. Essa ajuda, conhecida como mecenato, tinha por objetivo fazer com que esses mecenas (governantes e burgueses) se tornassem mais populares entre as populações das regiões onde atuavam. Neste período, era muito comum as famílias nobres encomendarem pinturas (retratos) e esculturas junto aos artistas.
Foi na Península Itálica que o comércio mais se desenvolveu neste período, dando origem a uma grande quantidade de locais de produção artística. Cidades como, por exemplo, Veneza, Florença e Gênova tiveram um expressivo movimento artístico e intelectual. Por este motivo, a Itália passou a ser conhecida como o berço do Renascimento.
Exemplo e exemplaridade em Erasmo de Rotterdam
Os séculos renascentistas que abrigaram tanto Erasmo de Rotterdam, quanto
Michel de Montaigne compreendem uma época marcada por uma intensa atividade
literária, que permeia tanto a prática da escrita, como as discussões propriamente
teóricas sobre o assunto. Erasmo de Rotterdam é um dos autores que melhor
representam esta característica do Renascimento, pois além dele ter se dedicado
incansavelmente à prática da escrita – seja ela política, filosófica, religiosa ou
pedagógica – ele também se ocupou de maneira ampla a tratar de questões sobre
retórica.
Inspirado no décimo livro da Institutio Oratoria de Quintiliano, o De duplici
copia verborum ac rerumvi de Erasmo consiste numa espécie de manual, onde são
apresentados meios para se alcançar a chamada copia (abundância), no que diz
respeito à relação entre matéria e palavra. Trata-se portanto de um livro que pretendia
auxiliar principalmente os novatos na obtenção de maestria quanto à eloqüência.
Segundo o próprio Erasmo, não faz parte de sua intenção prescrever a maneira pela
qual se deve falar e escrever, mas apenas apontar caminhos que podem ser
percorridos por aquele que deseja evitar a eloqüência fútil e amorfa, composta de uma
multidão de idéias e palavras vazias, reunidas de maneira indiscriminada. A boa
eloqüência não pode, segundo ele, ser medida pela quantidade de palavras, ou seja,
nem pela extensão do discurso, que pode se tornar excessivamente ornamentado e
tedioso, nem pela brevidade, cujo laconismo corre o risco de deixar importantes
aspectos da discussão de lado. É antes a adequação entre a palavra e aquilo que deve
ser dito que assume o papel central na discussão retórica erasmiana.
Os dois tópicos fundamentais apresentados por Erasmo em sua discussão
acerca de como obter o domínio discursivo são o acúmulo e o princípio da varietas. A
copia poderia, assim, ser medida pela capacidade do autor em tratar e apresentar da
maneira mais variada possível um mesmo assunto e para isto ele precisa ter à sua
disposição uma variedade de argumentos e exemplos a que ele possa recorrer. Cícero
– segundo Erasmo, o pai de toda eloqüência - é aqui evocado como o exemplo dos
que mais amplamente puseram em prática o princípio da variedade. O exercício
recomendado por Erasmo, de exploração de um tema a partir dos mais diversos
ângulos, que possibilitaria o escrutínio de todas as possíveis minúcias envolvidas na
questão, constituía uma prática que se tornaria habitual no Renascimento. Trata-se da
argumentação in utramque partem, também posta em prática por Montaigne em seus
Ensaios, onde um mesma tema é explorado a partir de perspectivas opostas.
A discussão sobre o exemplo surge na obra de Erasmo neste contexto mais
amplo de discussão retórica, na medida em que aparece como uma parte fundamental
do processo de acúmulo a que deve aspirar o escritor que deseja aprofundar a sua
habilidade discursiva, pois ter uma gama de exemplos considerável certamente o
auxiliaria a praticar o princípio de varietas. A discussão específica sobre o uso de
exemplos é indissociável da dimensão temporal e, neste sentido, da teoria mais ampla
de Erasmo sobre a “imitação”, uma vez que a escrita é pelo autor percebida como
uma atividade dependente da história literária, particularmente do que foi produzido
na Antigüidade clássica. Ao associar a prática da escrita a um programa exaustivo de
leitura, o De copia constitui um episódio central na história da teoria imitativa. Neste
sentido, um texto é sempre visto como um prolongamento de um outro, ou de outros
que lhe são anteriores. O autor, por sua vez, é consciente desta dívida e de sua
incapacidade para escapar totalmente dos constrangimentos impostos por toda a
leitura que ele efetuou. Mas, ainda que inspirado na história filosófico-literária, o
escritor deve, segundo Erasmo, assegurar a sua independência, a partir da
multiplicação e fragmentação daqueles que lhe servem de modelo. É, pois, somente
desta maneira que o escritor evitaria a sua própria limitação ao prestígio de um só
autor.
O diálogo intitulado Ciceronuanusvii (Ciceroniano) - também chamado de “da
melhor eloqüência” –, datado de 1528, se insere exatamente neste debate teórico
apresentado em Da Copia, servindo-lhe inclusive de exemplo. A questão teórica
fundamental colocada por Erasmo no manual sobre retórica, sobretudo a relação
ambígua que o escritor deve manter com o passado, recebe, a partir das personagens
evocadas pelo autor, um tratamento mais concreto. A disputa retórica é travada entre
Nosoponus (que é apresentado como o ciceroniano) e Bulephorus, que representaria o
ponto de vista de Erasmo. Nosoponus surge neste diálogo como um homem doente,
um maníaco da eloqüência ciceorinana, que há sete anos se recusa a ler qualquer coisa
que não seja de autoria do filósofo romano. Bulephorus, por sua vez, aparece como o
sensato, que faz de tudo para mostrar a seu interlocutor, que a boa imitação exclui o
culto idolátrico de um único autor.
Ainda que a eloqüência de Cícero seja de fato admirável, é preciso manter a
ressalva de que ela era adequada ao tratamento de questões específicas e típicas de
sua época. O mundo de Erasmo já não era mais o mundo de Roma, dos Césares, do
senado, dos centuriões e do Capitólio. Bulephorus (ou Erasmo) diz enxergar ao seu
redor um mundo distinto, cuja realidade faz com que um discurso bom e prudente seja
necessariamente distante do exemplo ciceroniano. Diante de um novo contexto,
marcado pela presença de outras problemáticas, seria preciso, assim, adaptar tal
inspiração. Torna-se necessário re-criar, numa linguagem apropriada para a nova
audiência, o sentido do texto original. Seguindo uma lição originalmente de
Quintiliano, Erasmo diz ser preciso adaptar o estilo ao tema tratado, às circunstâncias
e ao temperamento próprio de cada escritor.
É desta convicção que nasce a recomendação de apropriar e naturalizar o
discurso alheio. Tanto no diálogo citado como no manual sobre retórica, Erasmo
desenvolve essa idéia e recorre à metáfora das abelhas, que também seria usada por
Montaigne no mesmo sentido. Como as abelhas que se alimentam do pólen de várias
flores e produzem o seu próprio mel, o escritor deve alimentar-se da história
filosófico-literária, sem deixar de produzir o seu próprio pensamento, construindo um
discurso autêntico. Assim, se o escritor quer alcançar a copia (no sentido de domínio
da eloqüência) a sua imitação não deve aparecer como mera cópia.
A inspiração, a imitação de modelos e figuras exemplares e o recurso a
exemplos são valorizados por Erasmo como um meio de se desenvolver a capacidade
retórica e de se tornar o pensamento mais consistente. Neste sentido, a exemplaridade
de ensinamentos alheios, sobretudo antigos, e a exemplaridade de figuras históricas
(ou mesmo fictícias) não têm o seu valor questionado, na medida em que servem para
a formação intelectual do indivíduo. No entanto, uma vez que os exemplos devem,
acima de tudo, ser plurais e provir de fontes filosóficas, literárias e históricas das mais
diversas, eles terminam por servir de contrapeso uns aos outros. A conseqüência desta
perspectiva essencialmente plural é que a exemplaridade, por exemplo, de Cícero
como modelo retórico a ser imitado, acaba sendo diminuída pela presença e influência
de outros autores, como Quintiliano. O único exemplo de fato universal e superior não
raro evocado por Erasmo, que estaria por cima de todos os outros e serviria como
padrão a partir do qual poder-se-ia julgar os demais, é Cristo. Esta figura exemplar, a
partir da qual as outras figuras podem ser avaliadas como boas ou más, serve de
fundamento para todo o pensamento medieval ocidental e é mantida por Erasmo. A
figura de Cristo permanece, no entanto, num nível superior e ideal tão distante de
todos os demais exemplos, que é praticamente incomparável.
Michel de Montaigne e a atitude anti-mimética
A mesma relação ambígua com o passado histórico e literário faz-se presente
nos Ensaios de Montaigne, pois ao mesmo tempo em que este autor se inspirava na
herança deixada pelos antigos, ele também aprendeu a duvidar da autoridade
tradicional que os antigos ensinamentos e modelos poderiam exercer em um mundo
cada vez mais confrontado com uma inesgotável diversidade. Este embate, entre
antigas e novas maneiras de explicação do mundo, diante do qual Montaigne
permanece impassível, sem tomar partido por nem uma, nem outra, permeia toda a
sua obra. A questão sobre exemplos e a exemplaridade destes não merece aqui uma
discussão teórica explícita como no caso de Erasmo. No entanto, a partir de uma
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leitura atenta dos Ensaios pode-se notar um uso particular de exemplos e citações,
além de uma relação com o tema da exemplaridade, que mantêm uma íntima ligação
com a sua visão de mundo.
Vale relembrar que a validade do exemplum depende da pressuposição de que,
ao longo do tempo, há mais analogia na experiência humana, do que diversidade.viii
Ou seja, o uso de exemplos encontra a sua validade na crença de que a história
humana é mais marcada pela repetição, do que pela singularidade. O questionamento
da exemplaridade atingiria, neste sentido, o ápice em Montaigne, pois é este o
pensador que mais seriamente põe em dúvida esta pressuposição. Montaigne foi de
fato um dos pensadores renascentistas mais sensíveis para a percepção da variedade
que, segundo ele, é a qualidade fundamental e mais universal da existência humana.
Enquanto as disputas religiosas iniciadas pela Reforma expunham a existência
de interpretações distintas no seio da própria religião cristã, as navegações e
sobretudo o encontro com os povos indígenas do novo Mundoix reforçavam ainda
mais a constatação da diversidade ética e cultural. Além disso, a ampliação do número
de traduções de textos antigos e a difusão do livro impresso abriram novas dimensões
de escrita e leitura, que revelariam do encontro entre as tradições filosófico-literárias e
as novas problemáticas as mais distintas visões de mundo. O mundo percebido por
Montaigne é, em suma, um mundo de pluralidade, onde perspectivas distintas de
alguma maneira coexistem. A experiência da pluralidade não é só reconhecida por
Montaigne, como torna-se o próprio centro dos Ensaios, na medida em que estes
tinham como fim último o registro das variadas e por vezes contraditórias
elucubrações de seu autor.
A despeito do questionamento que Montaigne faz do caráter exemplar de
modelos, uma vez que desconfiava da pertinência destes quando deslocados para um
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novo contexto que não o original, a presença de exemplos e citações é evidente em
seus Ensaios. No entanto, longe de lhe servirem como prova de uma argumentação,
ou de uma tese que se pretenderia definitiva, eles são evocados a fim de ilustrar os
diversos pontos de vista que ele apresenta. No primeiro ensaio de todos (Por diversos
meios chega-se ao mesmo fim), aquele que tem como tema a inconstância humana,
Montaigne discute sobre qual seria a maneira mais adequada de enternecer o coração
daquele que nos mantêm à sua mercê. Lançando mão de exemplos distintos e de
variadas figuras históricas, ele argumenta ora a favor da submissão, ora a favor da
bravura. Os exemplos servem, assim, simplesmente como meio de ilustração da
argumentação e em última instância não há como decidir qual das atitudes seria a
mais exemplar.
A narrativa de histórias paradigmáticas e o uso de exemplos é tão vasto e
plural, que não há a possibilidade de extrair deles posições unívocas, ou ensinamentos
definitivos. Ao representar uma variedade inefável de pontos de vista, o exemplum
torna-se, em Montaigne, figura da pluralidade. Tal aspecto do uso de exemplos por
parte deste autor é ainda reforçado pelo fato dele nem sempre comentar os exemplos a
que recorre. Isto indica a ausência de uma valoração prévia que lhes seria atribuída e a
disposição de espaço para que o leitor os interprete como bem entender. É neste
sentido que ele diz que, quem quiser esmiuçar as suas histórias, poderá tirar delas
infinitos Ensaios.x
A constatação da variedade é acompanhada particularmente em Montaigne por
uma postura ética e intelectual profundamente tolerante, já que frente a essa
multiplicidade não haveria como identificar princípios ou doutrinas que sejam mais
verdadeiras, ou seja, que desfrutem de uma superioridade ontológica. Afinal, diante
da inesgotável inconstância e imprevisibilidade da ação humana, como seria possível
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escolher um modelo adequado a partir do qual se deve pautar a ação ou o
comportamento humano?
Enfim, a variedade enfraquece o exemplum e dilui a sua autoridade. E na
medida em que a exemplaridade do exemplum é continuamente posta em questão, as
referências a figuras ou eventos históricos notáveis começam a perder um pouco de
espaço. De acordo com Patrick Henry, o questionamento da exemplaridade
constituiria mais um elemento que teria estimulado, de modo geral, uma atitude antimimética,
mais atenta às experiências individuais, do que em fornecer modelos transhistóricos
e universais que dessem conta da extensa totalidade da vida.xi A autoridade
começa a ser substituída pela experiência do homem ordinário, que é tão complexa a
ponto de não ser passível de redução a exemplos únicos. Diante deste cenário, as
próprias experiências assumem um papel central nas investigações montaigneanas.
Ainda que a perscrutação de si mesmo mantenha o olhar para o exterior, Montaigne
percebe em si mesmo tanto ou mais matéria para reflexão. O movimento em direção a
um pensamento mais pessoal pode ser atestado pela análise do lugar que as citações
ocupam no texto de Montaigne. Enquanto no primeiro livro dos Ensaios as citações,
em geral, se encontram no início do capítulo e servem como centelha para toda a
reflexão que lhes segue, no terceiro livro e nas revisões que vão sendo feitas, elas se
encontram ao longo do texto e servem mais para ilustrar uma opinião sua, que para
suscitar discussões.
É bem verdade que Sócrates aparece inúmeras vezes nos Ensaios como um
dos poucos modelos realmente dignos de admiração por parte de Montaigne. Mas,
dizer que Sócrates é o maior exemplo de como a vida pode ser levada com
simplicidade e sabedoria, não significa dizer que ele é um modelo a ser seguido.xii Isto
porque a grande máxima de Sócrates, retomada por Montaigne, ou seja, “conhece-te a
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ti mesmo” é, por si só, anti-mimética. “Eu que me instruo mais por oposição do que
pelo exemplo, mais por evitar do que por acompanhar.”xiii
Faz também parte dessa ampla atitude anti-mimética a recomendação
pedagógica de Montaigne presente em Da Educação das Crianças, segundo a qual
seria fundamental para a formação do indivíduo o exercício da própria faculdade do
julgamento, em detrimento da pura repetição de argumentos de autoridades. Seguindo
a mesma recomendação de Erasmo, Montaigne diz ser preciso digerir as máximas
alheias e não apenas regurgitar o que foi lido. “O estômago não realizou sua operação,
se não fez mudar a característica e a forma do que lhe deram para digerir.”xiv Ao
“digerir” o pensamento de outrem, ele toma outra forma, deixa de ser estranho,
tornando-se, assim, reflexão pessoal.
Conforme com esta perspectiva, Montaigne recusa-se enfaticamente a servir
de modelo. Ainda que o seu percurso possa servir de exemplo, ao menos segundo o
sentido que o termo assume no Renascimento, é difícil pensar que o autor se avalie
como exemplar. A recusa em servir de modelo é, ao contrário, normalmente
acompanhada pelo discurso auto-depreciativo e irônico: “Enfim, toda essa miscelânea
que vou gratujando aqui não é mais que um registro dos ensaios de minha vida, que,
para a saúde interior, é bastante exemplar desde que se tome a contrapelo a
instrução.”xv
Como a verdade é circunstanciada, e como não há valores que sejam
universalmente válidos, a adoção de um discurso normativo, marcado pelo tom
professoral, não faz sentido em Montaigne. A sua experiência, o retrato que ele pinta
é único e não deve ser imitado. Cada um deve experimentar por conta própria,
exercitar a sua própria faculdade de julgamento e desenvolver a sua autenticidade. Os
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Ensaios podem no máximo servir de inspiração, ou ilustração da única recomendação
que vale a pena: conhecer-se a si mesmo.
http://ww.Juliobattisti.com.br/tutoriais/adrienearaujo/historia
http://Revistaexagium.com.br/edicoes
http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/DescobriBarroco/Renascimento_Introducao.htm
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